13 de outubro de 2008

- Persona


Persona. Tenho pouca memória, por isso já não sei se era no antigo teatro grego que os atores, antes de entrar em cena, pregavam ao rosto uma máscara que representava pela expressão o que o papel de cada um deles iria exprimir. Bem sei que uma das qualidades de um ator está nas mutações sensíveis de seu rosto, e que a máscara esconde. (...) Quem sabe, eu acho que a máscara é um dar-se tão importante quanto o dar-se pela dor do rosto. Inclusive os adolescentes, estes que são puro rosto, à medida que vão vivendo fabricam a própria máscara. E com muita dor. Porque saber que de então em diante se vai passar a representar um papel é uma surpresa amedontradora. É a liberdade horrível de não ser. É a hora da escolha (...)Depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente – ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida – de repente a máscara de guerra da vida cresta-se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem como um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível
quando já não era mais para ser e ele chora em silêncio para não morrer, pois nesta certeza sou implacável, este ser morrerá, a menos que renasça até que dele se possa dizer: Esta é uma pessoa.
Lispector, Clarice.

Um comentário:

Profeta e Gentil :) disse...

Eu quero apossar-me do é da coisa.

Clarice.

:)

\o