4 de novembro de 2007

Planeta Terra.

Sabe aqueles dias que bate uma vontadezinha enorme de sumir? Eu me encontro em um desses dias, não porque queira fugir, me enganar, ou não encarar os fatos de maneira madura. Oras, porque eu tenho que encarar os fatos de maneira madura? Eu sou só uma menina, eu não aprendi muito, não por falta de sofrimento, por falta de luta ou interesse, mas estou falando do aprendizado diferencial, aquele que te faz agir de uma maneira única, com firmeza, aquele que as pessoas chamam de maturidade. Eu não sei quase nada sobre ele, mas eu sinto que todos a minha volta cobram de mim, acho que eles tem mais certeza do que eu das coisas que eu sei, de tudo que aprendi..Afinal, quem sou eu para falar de certezas? Eu sinto que falta muita coisa em mim, ou talvez nem falte, na verdade eu sinto que tenho quase tudo, mas não uso quase nada.

Não tem como me sentir mais idiota do que agora, não me arrependo, mas eu posso fazer melhor, EU, acima de todas as outras pessoas que me julgam, sei que posso fazer melhor. Acho que preciso de força pra isso, de tanto me falarem que eu não posso sozinha, já estou convencida disso, mas a quem pedir ajuda? Todos tem interesse, não há ser humano tão puro que ajude alguém sem segundas intenções, somos todos pecadores, não sujos, mas pecadores, quem dera eu achar alguém que tenha boas segundas intenções, mas boa para ambos os lados, ou quem dera achar algo bom o suficiente que me convença de que sou capaz.

Procuro alguém realmente humano, alguém que erre como eu, que cometa pecados como eu, não que eu esteja me procurando em outras pessoas, mas assim como Fernando pessoa, eu estou farta de semideuses.


Poema em linha reta
Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo,Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigoNunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humanaQue confessasse não um pecado, mas uma infâmia;Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


• Em "Poema em linha reta", Álvaro de Campos expressa, de maneira radical, sua solidão, sua diferença em relação ao homem comum.(Antologia poética - Fernando Pessoa)

2 comentários:

Rodrigo disse...

tanta coisa que a vida oferece
e agente padece, sem querer =]
(isso aí é de outro fernando auhauha o mendes!)

e fernando pessoa é foda brow!
uhdauhda

Rodrigo disse...

po eu fiz um comentário e desapareceu? --'